Saindo do tema deste blog, mas ainda dentro das reconstruções de época e da vida popular...
Esta ilustração foi feita para a revista Unesp Ciência.
O trabalho começou com este "briefing" do editor Ricardo Miura:
"Olá Spacca, obrigado pelo retorno.
É o seguinte, o que precisamos é montar uma cena numa taberna brasileira do final do século XIX, inicio do XX. Algo semelhante a sua ilustra que segue anexo. Acreditamos que pode ficar muito divertida essa cena. A pesquisadora fez a reconstrução de 72 imóveis situados na rua Esperança, atualmente essa rua não existe, ela ficaria ao lado da catedral da Sé. Pensamos em uma ilustra só para o abre da matéria, o cenário seria um bar, com 4 cenas:
Grupo de estudantes da São Francisco sentados numa mesa bebendo cachaça flamejante em cranios humanos.
Grupo de bêbados – italiano, português e dois negros.
Taberneiro atras do balcão brindando com dois populares, lavadeira e carregador de mala conversando no balcão."
A "minha ilustra que segue em anexo" era uma ilustração que fiz para o programa de TV Debret na Futura, esta aqui:
A pesquisadora é Daisy Camargo, autora da tese de mestrado "Alegrias engarrafadas:
os alcoóis e a embriaguez na cidade de São Paulo no final do século XIX e começo do XX".
Os mapas abaixo mostram como era a praça da Sé nesse tempo e como é hoje.
A catedral não existia, a Sé era uma igreja menor, perto da rua Direita.
Na fotografia abaixo, a rua Esperança aparece ao fundo, seguindo ao lado da igreja
(para quem conhece o centro de São Paulo, é seguindo na direção da João Mendes;
a fotografia foi tirada da esquina da XV de Novembro ou Direita).
Então, imaginei meu ponto de vista na tal rua Esperança, de dentro do bar, olhando a torre da igreja por trás.
Primeiro, fiz este "rough" de como via o desenho na página de abertura do artigo:
Fiz então um estudo já mais caprichado, que já dava pra chamar de layout.
O tamanho da ilustração aumentou, o editor conseguiu mais espaço e empurrou o texto uma coluna adiante.
Preenchi então com mais algumas figuras na parte direita.
Layout aprovado, começa a finalização.
A seguir, a colorização no Photoshop.
Primeiro, criei um layer com o layout e a diagramação, de referência,
com as medidas exatas da página, para consultar de vez em quando.
Começo a separar algumas áreas e planos com cor.
Com a cor, me dei conta de que desenhei o boteco sem portas...
Não havia pensado antes, mas na hora de finalizar pensei algo lógico:
Começar pelas luzes do cenário é melhor, porque elas é que vão orientar a luz dos personagens. Lógico.
Sombrinhas, sombrinhas e sombrinhas...
Aqui, desenhei outra cabeça para o portuga.
É que o editor queria um português de bigode, e eu, talvez cansado do clichê, visualizei um lusitano imberbe.
E desenhei meio mal inspirado, e ficou com cara de árabe...
Isso foi me incomodando, então fiz outra tentativa e cheguei nesse seu Manuel aí de baixo.
Manuel chavecando uma Maria.
O que posso fazer, se os clichês do "imaginário", afinal de contas, existiram e andaram entre nós?
Também dei uma mexida nas cores. Tirei bastante amarelo,
e com isso ressaltou o magenta (cor rosa bem forte, usada no sistema gráfico).
Numa avaliação bem subjetiva, perdeu a luz de "filme" e ficou com cara de gravura desbotada,
o que me agradou.
Não ficou uma ilustração realista, mesmo considerando que é um desenho de caricatura.
As figuras estão dispostas e iluminadas para poderem ser vistas e compreendidas
(uma fotografia in loco registraria personagens na penumbra, de costas, fazendo coisas que nem sempre se consegue entender).
(uma fotografia in loco registraria personagens na penumbra, de costas, fazendo coisas que nem sempre se consegue entender).
É mais uma recriação nostálgica, para passar o clima de boteco e ao mesmo tempo, lembrar certas gravuras antigas e desbotadas.
Foi muito legal ter feito essa ilustração, dá vontade de criar uma história só para usar esse ambiente e os personagens.
Spacca,
ResponderExcluirGostei da explicacão do processo de criação da ilustração. Muito bom! Nunca havia ouvido falar desse negócio de tomar cachaça em crânio, e ainda mais flamejante! Abraço!
pronto, agora que aprendi a desenhar com e como o spacca, vou largar essa maldita profissão de publicitário e me tornar ilustrador de uma vez por todas... rs rs
ResponderExcluirvaleu, spacca, abraços
artur
Muito bom o passo-a-passo e o resultado final.
ResponderExcluirSpacca, eu não conhecia sua arte até comprar o Jubiabá. Hoje sou fã e estou correndo atrás dos seus outros livros. Parabéns pelo trabalho fantástico.
Uma aula, Spacca. A explicação e o desenho em si. Espero até o fim da vida aprender a iluminar um desenho assim. Abração.
ResponderExcluirNossa ficou muito bom, realmente uma aula, gostei dos bebados no canto e o portugues bem intencionado com a tiazinha no balcão hehe.
ResponderExcluirGrande abraçoo.. achei o maximo seus trabalhos.
Muita gentileza sua Spacca. Postar de maneira tão didática, revelando todo o processo. Aprendí muito.
ResponderExcluirabraço,
Julio
Ótimo post-aula de processo!!
ResponderExcluirAlém da ilustra, gostei de entender lógica na pesquisa da arquitetura.
Ótimo trabalho!!
ResponderExcluirUma aula de processo e técnica.
Parabéns por sua carreira.
Quando eu crescer, quero ser assim!
Amplexo.
Olá!
ResponderExcluirGostaria inicialmente de parabenizar pelo Blog!
Cheguei a este maravilhoso post procurando por informações do programa de Debret na Futura, onde até o momento só encontrei este material do youtube:http://www.youtube.com/watch?v=ct-6fZyHSy4
Gostaria de saber se esta produção da sobre Debret está disponível na internet, pois gostaria muito de utilizá-lo em aula.
Desde já agradeço o compartilhamento de informações no post acima e aguardo um retorno.
Caso tenha interesse, visite meu Blog:
http://encantamentosdaliteratura.blogspot.com/
Bom início de semana!
Até a próxima!