terça-feira, 23 de novembro de 2010

Curso de Roteiro de HQ em Janeiro de 2011



Estão abertas as inscrições para o meu Curso de Roteiro de HQ, na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, que acontecerá de 10 a 18 de janeiro de 2011, das 19:00 às 22:00.

Quem foi ao curso de HQ em janeiro passado, notará algumas diferenças.
Além do tema ser mais específico e aprofundado, as aulas serão mais práticas, com exercícios em classe.

São 7 aulas: a primeira, introdutória, pretende dar uma geral na narrativa visual dos quadrinhos (que não é o tema do curso, mas é essencial para o roteirista de HQ prever como será o contato com o leitor).
A seguir, o processo de criação de roteiro foi dividido em 4 aulas práticas:
- criação de idéias
- estrutura de roteiro
- criação de cenas e diálogos
- decupagem e diagramação na página

As duas últimas aulas tratam de HQ com tema histórico e realidade (jornalismo, biografia etc) e adaptação de literatura para HQ.

Este curso, de certa forma, vai comemorar duas premiações que nosso trabalho recebeu este ano: o Troféu HQMix 2010 de melhor Adaptação Literária e o Edital para Roteiro de Animação do CCJ Ruth Cardoso, com tema "Mário de Andrade" (o roteiro premiado será analisado nas aulas).

Informações no site http://www.casperlibero.edu.br/noticias/index.php/2009/12/04/curso-roteiro-de-hq,n=1836.html
e no Centro de Eventos Cásper Líbero (Av. Paulista, 900 - entre as estações Trianon-Masp e Brigadeiro, a linha verde do metrô)

telefones: (11) 3170-5910 e (11) 3170-5911

abraços e até lá!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

PAULO RAMOS & SPACCA NA GIBITECA HENFIL


Será nesta QUINTA FEIRA, 16 DE SETEMBRO DE 2010,
às 19 horas, na Gibiteca Henfil
(rua Vergueiro 1000, ao lado do metrô Vergueiro, em São Paulo SP)
telefone: (11)3383-3490

A conversa será sobre adaptações de literatura em HQ, com foco no JUBIABÁ.
No ano passado, mais ou menos por esta época do ano, o Paulo Ramos (não preciso apresentá-lo aos aficcionados de HQ, mas fica a informação ao leitor geral: é jornalista e escritor especializado na Nona Arte e mantém o Blog dos Quadrinhos do UOL) deu aos seus alunos da Universidade de Guarulhos, na turma de Português, os dois JUBIABÁS para ler e comparar, o do Jorge e o meu, depois me chamou para conversar com os alunos.

Aqui vão os tópicos (claro, podemos improvisar na hora, se do público surgirem novas questões):

1. Sobre as diferenças básicas entre Literatura e Quadrinhos;
se HQ (História em Quadrinhos) pode ser considerada um gênero literário.

2. O processo de quadrinização: do livro ao Roteiro.
- semelhanças do roteiro de Quadrinhos com o Script de cinema.
- as necessárias adaptações e reduções por que passa o texto original até ser convertido em roteiro e imagens.

3. A visualização de personagens literários - como agradar a cada leitor que construiu em sua imaginação o seu "Jubiabá"?

4. A quadrinização de clássicos em sala de aula: a HQ pode ser considerada uma introdução à literatura?

5. As políticas públicas de incentivo aos Quadrinhos.

aguardamos vocês!

domingo, 15 de agosto de 2010

Uma Casa Azul no meio do Sertão


Já faz quase uma semana que voltei de Nova Olinda, no sertão do Ceará, quando participei da mostra "Cariri Mostrando a Nona Arte dos Quadrinhos e Animação", realizada pela Fundação Casa Grande.
Resta saber quem tinha mais a mostrar, se os convidados ou nossos anfitriões.
Antes de ir, escrevi para Alemberg Quindins, o diretor da Fundação: "usem e abusem de mim quando eu estiver aí". Como sempre, foi pouco. Participei de uma mesa e dei uma breve oficina.
Por isso me coloquei à disposição da meninada, e de alguns marmanjos também.

Falei de meus personagens e até desenhei alguns Dom Joões, mas o que fez sucesso - como negar? - foram os personagens do Maurício. Nessa foto abaixo, feita na bem organizada gibiteca, acabei de rabiscar um Chico Bento:

Momô (José Wilson), Huguinho, Raimundo Júnior (perto do ombro de Momô), Rodrigo (filho de dona Meirivan, que nos hospedou em Nova Olinda), Danilo, eu e Felipinho.

O encontro foi muito rico, com um time bem variado de convidados, especialistas não só em HQ ou animação, mas em organização de eventos como este e gibitecas:
- quadrinhistas: Jô Oliveira, André Diniz, Klévisson Viana, Luís Afonso, Weaver Lima e eu;
- jornalistas: Sidney Gusman, Gabriela Romeu;
- gestores culturais: Raymundo Netto, Tibico Brasil, Paulo Amoreira, Maristela Garcia;
- diretores de festivais de HQ: Nelson Dona (Amadora) e Paulo Monteiro (Beja), de Portugal;
- produtores de animação: Daniel Schorr, Belinda Oldford, Ricardo Juliani, Paulo Brandão e Elizah Rodrigues (sonorização);
- pesquisadores: Sonya Bibe Luyten, Max Krichanã, Gervásio Santana;
- e o cosplay e cover de Tex, o colecionador G.G.Carsan.

(mais detalhes sobre cada convidado aqui)


Antes de chegar a Nova Olinda, fomos a Juazeiro do Norte pedir a benção ao santo padim Padre Ciço, pedido feito por Jô Oliveira à produção do evento.

Nas fotos acima, a partir da primeira à esquerda: Jô, eu e André Diniz; Gabriela, Gervásio e Diniz; padre Cícero; Jô e Sidney Gusman; Patativa do Assaré e este que vos tecla.

O grande poeta de Assaré foi clicado no Lira Paulistana, centro cultural dedicado a preservação da arte da xilogravura e do cordel.


Acima, a partir da primeira foto: o xilógrafo José Lourenço Gonzaga e Jô Oliveira posam diante do Pavão Misterioso, arte do Jô; e nas seguintes mestre José Lourenço demonstra numa impressora dos anos 20 como se imprime uma xilogravura.

Aqui, um link pra saber mais sobre este artista.

(Falar que o Jô Oliveira é quadrinhista é contar só metade da missa: ele é um artista extraordinário, ilustrador entranhado na arte popular brasileira, com atuação e fama internacional. Num outro post eu falo com mais detalhes deste e de outros cabras).


Acima, algumas imagens das mesas em que os convidados falaram um pouco sobre suas atividades. Do alto à esquerda em diante:

1. Gervásio, Gusman e Diniz, em mesa sobre divulgação dos quadrinhos, blogs e coisas afins;
2. mesa de animação: Daniel Schorr e Belinda Oldford (que fizeram desenhos no National Film Board do Canadá) e Elizah e Paulo Brandão (sonorização, vozes e música - Elizah nos brindou com uma palhinha no show que teve no sábado, da banda Abanda dos garotos da Fundação);
3. Paulo Amoreira, da Gibiteca de Fortaleza, e o cãmera Helinho;
4. o grande Klévisson Viana (é outro em que o adjetivo "quadrinhista" lhe soa pequeno: Klévisson é editor, escritor, cordelista e um grande cultivador das tradições nordestinas);
5. Amoreira, Maristela Garcia (da Gibiteca de Curitiba), Jenfte e Samuel, da Gibiteca da Fundação.
6. mesa da BD (HQ) portuguesa: Nelson Dona (festival de Amadora), Luís Afonso (cartunista) e Paulo Monteiro (festival de Beja).

Acima, Alemberg Quindins, Sonya Luyten, Klévisson Viana e Jenfte; agachados, Felipinho e Momô.
Não posso deixar de registrar o belíssimo show de Abanda, na sexta à noite.
Os rapazes tocaram acompanhando e ampliando o vídeo "Rua do Vidéo" numa mistura muito rica dos trovadores, poetas e cantores populares (vejam este Cego Heleno, não parece um bluesman? tocando, mais ainda) com sonoridades modernas.
Não está na foto, mas na percussão esteve o André Magalhães, que dirigiu o vídeo.
Nas duas fotos do alto, os diretores da FCG Alemberg e sua esposa Rosiane Limaverde, arqueóloga (pois é, tem um trabalho legal com fósseis na região, tem um acervo arqueológico, é tanta coisa...) cantam no vídeo a forte e hipnótica "Waiucá".
- êêê manacá... rainha, rainha... Jurema, Jurema...
- Entoe para mim o canto das filhas órfãs do Reino dos Encantados...
Super bonito. Infelizmente, não tem no Youtube.
(a Wiliana acabou de me avisar que tem sim, neste link: http://www.youtube.com/watch?v=_k6en8A09sE . Não é a mesma gravação, a do vídeo está mais limpa e a voz do Alemberg mais grave, acho que ficou melhor; mas é isso aí, é pra escutar e entrar em transe :)
O Alemberg sabe fazer rir, sabe comover e sensibilizar, sabe escolher palavras precisas, simples e poéticas, fruto de suas andanças pesquisando os mitos da região e a cultura kariri.
Gostei muito de conhecê-los, e pode contar comigo para defender a Bolota, Alemberg :)


E eu e a turma: Ana Carla, Felipinho, Momô (José Wilson), Júnior e, quase de costas, a valente Cuta que precisava lembrar aos convidados que o tempo havia acabado.


Acima, eu e Momô desenhando (Momô é o autor do desenho que abre este post, colorido por mim).
Abaixo, desenho de Danilo.

E para terminar, Raimundo Júnior, que me deu este retrato de presente, sem esquecer nem um detalhe:

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Anita, HQ em Pauta e Nova Olinda - entrando em agosto com o pé direito

Fim de semana agitado na HQ nacional...



Em 31 de julho e 01 de agosto de 2010 acontece a segunda edição do HQ em Pauta -Encontro de profissionais e leitores de Histórias em Quadrinhos.

Participam os quadrinhistas Eddy Barrows (Superman), Felipe Massafera (Jambocks), Danilo Beyruth (Necronauta), Eloar Guazzelli (O pagador de promessas) Laudo Ferreira Jr. (Yeshuah) e este que vos tecla;
os jornalistas, escritores e roteiristas Paulo Ramos (Bienvenido – Um passeio pelos quadrinhos argentinos), Gonçalo Jr. (A Guerra dos Gibis), André Morelli (Super-Heróis nos Desenhos Animados), Edson Rossatto (História do Brasil em Quadrinhos), Marcelo Naranjo (Universo HQ) e Jota Silvestre (Revista Mundo dos Super-Heróis);
e os editores Maurício Muniz (Gal), Levi Trindade (Panini) e Cláudio Martini (Zarabatana).

Farei no sábado à tarde (14:30) uma palestra sobre a criação de personagens ("O personagem de quadrinhos: simulacro da realidade") - aliás, é o mesmo espaço onde tem exposição de originais desde 01 de julho.

A Biblioteca de Literatura Fantástica Viriato Corrêa fica na Rua Sena Madureira, 298 – Vila Mariana – São Paulo, próxima ao metrô Vila Mariana.
Confira abaixo a programação do HQ em Pauta ou vá ao site http://www.hqempauta.com/



Logo mais à noite, 31/7 a partir das 19:30, a apenas três estações de metrô, será o lançamento de ANITA GARIBALDI, O Nascimento de Uma Heroína, por Custódio.

Acompanhei a saga dupla - da Anita e do Custódio - e o álbum ficou um primor.
Fazer um álbum de HQ é uma espécie de rito de iniciação (ou batismo de fogo, ou maratona...) que eu conheço mais ou menos; HQ histórica, então...



Para comemorar, Custódio está fazendo uma Pizzada temporã na Prestíssimo, que tradicionalmente abrigou as últimas nove "Pizzadas dos Cartunistas".
Mais detalhes no blog do Custódio http://www.anitagaribaldi.com/

Dia 31/07/2010, a partir das 19:30hs na Pizzaria Prestíssimo, Al. Joaquim Eugênio de Lima, 1135 (descendo da avenida Paulista, próximo ao metrô Brigadeiro).

E na semana seguinte...



...estaremos voando para o Ceará, participar do evento "Cariri mostrando a nona arte de quadrinhos” em Nova Olinda, região do Cariri, promovida pela Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri.

Sobre este evento, que será em 06, 07 e 08 de agosto, farei um post-reportagem mais completo quando voltar.

Mas adianto que participarei de uma conversa com o quadrinhista Jô Oliveira e a quadrinhóloga Sonya Luyten no primeiro dia, dois dos 29 convidados do Brasil, Portugal e Canadá; e de uma oficina no dia seguinte.
Confira a programação aqui.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

por motivos de força maior...

Desculpem, amigos,
mas o Curso de Roteiro foi cancelado...
Não houve quórum suficiente (25 vagas), apenas metade se inscreveu e a faculdade precisa de pelo menos 20 alunos.
De qualquer forma, agradeço muito ao interesse dos que se inscreveram, e à Casper, que abriu novamente este espaço para repetirmos a experiência que já foi boa em janeiro/2010.
Mas o curso está pronto, redondo - considero apenas adiado.
abraços grandes...

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Curso de ROTEIRO DE HQ na Cásper Líbero




Atendendo a sugestões de alunos do nosso curso de janeiro, em julho o foco será a criação e desenvolvimento de ROTEIRO DE QUADRINHOS.

É sobretudo uma época interessante para abordar este assunto, porque no momento estou envolvido na adaptação de "As Barbas do Imperador" de Lília Schwarcz e, justamente, organizando idéias e informações em uma estrutura narrativa gráfica. Todas as questões relacionadas a contar visualmente uma história estão muito presentes para mim, e penso que é uma boa oportunidade para registrar e partilhar alguns insights e métodos que desenvolvi a respeito.

Planejo fazer aulas práticas, com alguma informação teórica e exercícios feitos em classe para fixar conceitos. Os alunos receberão uma apostila com o conteúdo das aulas, e amostras dos meus roteiros de "Santô", "Jubiabá" e outras HQs.

Até certo ponto, o conteúdo do curso se aplica a qualquer tipo de roteiro ou script, para cinema, teatro etc, porque falaremos da arte de contar histórias; depois, vamos afunilando, para problemas específicos da linguagem da HQ, como a divisão de uma cena em imagens e o planejamento de uma página.

Não é necessário ser desenhista para acompanhar o curso, mas certamente o roteirista de HQ precisa ser capaz de pensar em como seu roteiro chegará ao leitor, em forma de página impressa. Tem que conhecer e gostar de HQ para escrever um roteiro e planejar quanto texto cabe num balão, por exemplo.

Este é o programa das aulas:

aula 1. CONCEITOS GERAIS- a arte de criar histórias (em teatro, cinema, literatura, poesia, HQ etc)- o roteiro formatado para HQ: a representação do tempo e do espaço nos quadrinhos.

aula 2. CRIAÇÃO- A criação como descoberta e reconhecimento.- de onde vem uma idéia? como desenvolver uma história a partir de qualquer elemento potencial.

aula 3. ESTRUTURA DO ROTEIRO- formatos universais e modelos de roteiro (três atos, modelos e esquemas).- estruturas atemporais (família, grupo, universo, matriz de histórias).

aula 4. CENAS E DIÁLOGOS- do abstrato ao concreto: a estrutura da história é transformada em uma sequência de momentos presentes, chamados "cenas".- para criar ações e diálogos, o autor converte-se em ator e/ou espectador.

aula 5. DECUPAGEM- a divisão da cena em momentos e imagens.- a composição da página e a representação da experiência humana: tempo objetivo, tempo subjetivo, narração dos acontecimentos e estados emocionais.

aula 6. ROTEIRO BASEADO EM FATOS HISTÓRICOS E REALIDADE- oportunidades e limitações que a realidade oferece.- encontrando numa sequência de fatos uma estrutura ficcional.

aula 7. ADAPTAÇÃO DE LITERATURA PARA QUADRINHOS- conhecendo um autor e seu mundo; sua personalidade, marca pessoal, estratégias de escrita;- como simplificar sem perder o essencial: necessidades da adaptação, perdas e ganhos.

As aulas serão de 19 a 27 de julho de 2010, das 19:00 às 22:00.
A Faculdade Cáper Líbero fica na avenida Paulista, 900, entre as estações Trianon-Masp e Brigadeiro, da linha verde do metrô.
Veja localização aqui.

As inscrições podem ser feitas no Centro de Eventos Cásper Líbero, nos telefones (11)3170-5910 e (11)3170-5911, ou pelo site
http://www.casperlibero.edu.br/noticias/index.php/2009/12/04/curso-roteiro-de-hq,n=1836.html

sexta-feira, 12 de março de 2010

Glauco - adeus do Spaccolino


Glauco era uma figura.
Trabalhamos lado a lado, desde que entrei para a Folha em 1985.
A partir de 86 comecei a fazer charge política, e alternamos naquele espaço até 92.

Glauco era um dos "filhos do Henfil", jovens cartunistas que durante um tempo cresceram sob as asas do mestre mineiro (os outros eram Nilson e Laerte). Glauco e Nilson moraram na casa do Henfil, inclusive.
Ele conservava a irreverência e a rapidez do traço do Henfil, mas aquilo era dele.
A genialidade era dele. Tinha um humor maroto, meio caipira, que era dele mesmo, e da família dele e da cidade dele, Jandaia do Sul no Paraná. O Pelicano, irmão do Glauco, tem o mesmo talento (o roteiro da HQ do Laerte em que o cara é atropelado usando a calcinha da mulher é do Pelicano). Glauco me dizia que na cidade dele todo mundo era engraçado, o barbeiro, todo mundo. Num lançamento em que vi a família dele, tive essa impressão, eram bem gozadores e moleques, tinha que ficar esperto...

Abaixo, uma charge do Glauco na Folha (06/jan/1986) em que eu desenhei o prefeito Jânio Quadros.



Algumas marcas do Glauco podem ser vistas no desenho acima:
1. o absoluto 2D. Desenho egípcio, chapado, bidimensional. Nestes tempos de louvação do 3D isto merece ser resgatado.

2. a passagem brusca de um quadrinho para o outro. Mudanças rápidas. Grande senso de tempo. Pá-pum. Pano rápido.

3. idéia muito direta, sem frescura.

4. Movimento frenético e congelado ao mesmo tempo; bracinhos e perninhas multiplicados, com o mesmo peso (não é que um é presente e o outro é passado, rastro; os membros se multiplicam mesmo).

5. Uma certa singeleza caipira, maroto e envergonhado, malícia de Jeca.
Ele lembrava de umas coisas constrangedoras e bregas, daquelas que todo mundo sabe mas ninguém fala: complexos, traumas, briga em família, ciúmes, inseguranças. A coletânia de tiras "Abobrinhas da Brasilônia" traz umas coisas assim.

Ele me disse que escolheu o nome "Geraldão" para o seu personagem porque ele era "geral", era todo mundo e era qualquer um. Era um humor muito próximo da gente, que escancarava intimidades. Coisas muito comuns, de classe média pobre, como a tábua de passar roupa e as malas em cima do armário, da mãe do Geraldão.

Nesse próximo desenho, dá pra ver alguns truques que eu pegava do Glauco: a simplicidade, o movimento da faca tríplice - super movimento e ao mesmo tempo uma imagem congelada no tempo, a perna em forma de garrancho já lembra mais o Fradim do Henfil.




Encontrei no meu baú o rascunho abaixo (prontíssimo para receber o nanquim).
Acho que é uma idéia recusada pela Folha.
Sacanagem + singeleza.
Professor de marotagem, de molecagem, de sem-noçãozagem.
Valeu, pangão...

segunda-feira, 8 de março de 2010

A Turma da Mônica X o Direito dos Napões



Os desenhos que ilustram este post foram feitos por mim, por volta dos 11-12 anos de idade.

Eu já sabia que seria desenhista profissional, meu sonho era ter uma família de personagens como os três maiores criadores da minha infância: Disney, Lobato e Maurício.
(Estes 3 nomes são apenas os que mais se destacavam, porque teve literalmente centenas de desenhos animados, gibis e artistas que me marcaram e até hoje me inspiram).

Na semana passada (01/03/2010) um artigo no Observatório da Imprensa, órgão em que publico meus desenhos, fez uma análise-ataque à Turma da Mônica e seus supostos efeitos sobre o comportamento das crianças, incitando-as à violência e ao preconceito.

O artigo de Dioclécio Luz foi um sucesso de público. Até o momento me que escrevo, já chegaram 168 comentários no Observatório, a imensa maioria de fãs indignados, fora os que se manifestam nos blogs que analisam a análise, o Championship Vinyl e o Diogo Salles (só vi esses, deve ter muito mais). No próprio Observatório há uma boa resposta de Emmanuelle Najar.

Estes desenhos já ilustram bem minha preferência, e há pouco o que acrescentar às críticas e respostas ao artigo. A maioria das críticas são, logicamente, desordenadas, cheias de ataques pessoais ao jornalista, do tipo "esse cara não teve infância" etc.
E é assim mesmo que devem ser! Saber analisar é o que se espera de profissionais preparados para escrever, não de leitores. O fã, o leitor "sente" e se manifesta com paixão. E não é um protesto menos legítimo por isso.



Já destrinchar o artigo é muito complicado: a análise de uma análise exige que a gente mostre, a cada linha, onde o autor se perdeu ou afirmou coisas sem base.

E é muito desestimulante hoje em dia, pois periga do autor replicar - e já que na primeira análise ele analisou mal, distorceu e pegou a parte pelo todo, certamente irá fazer isso de novo na tréplica. E vai pegar um pedacinho da análise e contestar, e generalizar...

enfim, sou muito descrente de uma análise verdadeira, com o objetivo de entender e aprender, que não seja feita individualmente ou entre umas poucas pessoas dispostas a conhecer, não a vencer o outro.
Esse tipo de debate com réplicas e tréplicas tem mais a ver com marcar posições e tentar conseguir aprovação do público. Enfim, não é jornalismo, é confronto de sofistas - é política.

Contudo, quero cautelosamente expor minha visão sobre o assunto.

Digo "cautelosamente" porque fácil, fácil isto vira uma grande confusão.
Só para explicar os termos "direita" e "esquerda" como se deve, já seria preciso uma "aula" bem extensa, que a maioria não teria paciência para acompanhar. No dia em que eu fizer um manual de "como fazer charge" haverá uma introdução à política e uma tentativa de desfazer mitos e frases feitas.

Neste momento não dá; só vou falar um pouquinho sobre a Turma da Mônica e o artigo do Dioclécio, tentando mostrar algum aspecto novo, e tentarei ser econômico - na esperança de, quanto menos falar, menos confusão eu cause.




Vamos lá:

1. o artigo de Dioclécio não é uma opinião pessoal.

É importante ter isto em mente.
O jornalista está apenas aplicando conceitos em voga no "superego" da vida intelectual pública.

O politicamente correto não está presente apenas nos setores educacionais: basta assistir ao Fantástico para receber "aulas de cidadania" contra o preconceito, a homofobia, a obesidade, o tabagismo, em prol do consumo consciente e do ecologicamente correto.
Não são apenas idéias que se disseminam naturalmente, ou uma tendência de nossa época: são políticas públicas colocadas em prática. Os comunicadores que desafiam essas normas estão sujeitos a multas e a sair do ar.


Sempre teve uma "casta de sacerdotes" controlando a arte e a informação. Ora religiosa, ora leiga, ora composta de generais e censores, ora de jornalistas e educadores, quando não de artistas engajados.
Antigamente a pressão dos controladores era para defender a pátria, hoje é o planeta.
Por isso a discussão é muuuuito complicada; é um emaranhado de argumentos e justificativas tão instalado na cabeça das pessoas, o politicamente correto já está tão integrado na paisagem que fica invisível.


Dráusio Varela acaba de pedir uma lei que proíba o uso de cor na embalagem de cigarros.
São ações assim, na superfície bem intencionadas e na defesa da saúde e dos direitos, que reforçam o poder governamental de ampliar o controle do comportamento dos governados.

Só daqui a algumas décadas - se esta ideologia for vencida por outra melhor ou pior - ficará mais fácil de perceber o espírito desta época, assim como os paletós laranja e a calça boca-de-sino ficaram ridículos quando passou a moda. Aí o patrulhamento do Politicamente Correto será equiparado à Caça às Bruxas do McCartismo e outras formas de ajustamento social compulsório.
(que, aliás, qualquer sociedade tem, quase todas muito ridículas e injustas).

Voltando: o artigo não é opinião pessoal, não é fruto de uma análise ou tentativa de entendimento.
Ele só aplica à Turma da Mônica um esquema cognitivo automático, um sistema de análise mecânica, que faz parte de uma estrutura de controle social em pleno funcionamento há duas décadas.

Esse estado de coisas e não deu sinal ainda de retroceder - mas nada fica pra sempre.



2. a Turma da Mônica já é mais comportada do que devia.


Inicialmente, e por vocação natural, a Turma da Mônica é entretenimento.
E realiza tudo aquilo que uma boa ficção faz e sempre fez, desde os contos de fadas.
É feita para prender a atenção, para emocionar e, dizem os psicólogos, promovem benefícios psicológicos como a "catarse" (traduzindo: o "lavar a alma" quando o Bem depois de sofrer bastante vence o Mal, por exemplo).


Mas também integra um grande negócio de merchandising, como o universo de George Lucas.
Nesse sentido, a criação não consegue se manter puramente ficção: os personagens se destacam da história e viram símbolos engraçadinhos.

Para poderem ser associados a produtos infantis, os personagens e suas histórias já precisam ceder a pressões do relacionamento do dono da franquia com seus clientes. E assim as histórias já começam a ser vigiadas para que se evite agressões à família, às religiões, menções à política etc.

Eu comparo as histórias que eu mais gostava, do início da Turma (HQs de Horácio na Folhinha e primeiros anos da revista da Mônica) e constato as diferenças. Ficaram mais leves, menos profundas. Talvez mais engraçadas, ou puramente engraçadas. "Maurício" se torna um "selo de qualidade", uma garantia de que os pais estão adquirindo entretenimento saudável para seus filhos.


Agora, do outro lado, vem a pressão da "cidadania". A Turma da Mônica continuou a fazer ajustes, tem personagem cadeirante, deficiente visual, todos os personagens desenvolveram "facetas úteis" para mostrar, publicamente, que podem ajudar a formar adultos responsáveis e conscientes...


Quão longe nós estamos da boa ficção, da arte de criar e contar boas histórias!


As pressões "da direita" (como se mercado fosse a direita, mas vá lá) e as da esquerda exigem que o personagem seja, acima de tudo, modelo de comportamento.
Preocupam-se com a influência da HQ sobre o comportamento da criança - como se ela já não estivesse sob a ação de inúmeros outros modelos de comportamento reais e presentes, os pais, as outras crianças individualmente, o grupo de crianças da escola (como nas prisões, há uma cultura que se herda e perpetua nas escolas, todo um jogo de provas e humilhações que o grupo impõe ao iniciante; acreditar que o "bullying" seja causado pelos gibis é ignorar esta dinâmica social real).


Os autores sabem que assim não se cria boa arte nem boas histórias; os leitores sabem, sentem quando histórias e personagens são falsos quando se transformam em marionetes numa aula de moral e cívica.

===


Bem, está bom já, vou ficar nesses dois tópicos.


Não vejo como enfrentar isso; talvez com um batalhão de psicólogos interpretadores "do bem" que provem que não há ligação direta entre a violência do Tom e Jerry e o massacre de Columbine (roubei a comparação do meu colega Marcelo Martinez).


Enquanto artistas, podemos espernear quando possível, desafiar a censura frontalmente e esperar o castigo, ou fazer protestos simbólicos e disfarçados. Esta saída costuma ser estimulante para os criadores e transforma a arte num enigma para iniciados.

Ou ainda, pisar em ovos e tentar satisfazer gregos, troianos e pandorianos, como Maurício e James Cameron. A ficção sofre, e os ajustes nunca satisfazem completamente os vigias da cidadania.


A grande sátira ao coletivo já foi feita pelo Maurício na história em que Horácio conhece os Napões. Uma história surreal, em que uma comunidade de sáurios, cansados da vida civilizada que levam, tenta transformar o tiranossaurinho vegetariano em carnívoro. Daí acabam brigando pelo direito de ser comido primeiro.

terça-feira, 2 de março de 2010

São Paulo que anoitece flamejante...


Saindo do tema deste blog, mas ainda dentro das reconstruções de época e da vida popular...
Esta ilustração foi feita para a revista Unesp Ciência.
O trabalho começou com este "briefing" do editor Ricardo Miura:

"Olá Spacca, obrigado pelo retorno.
É o seguinte, o que precisamos é montar uma cena numa taberna brasileira do final do século XIX, inicio do XX. Algo semelhante a sua ilustra que segue anexo. Acreditamos que pode ficar muito divertida essa cena. A pesquisadora fez a reconstrução de 72 imóveis situados na rua Esperança, atualmente essa rua não existe, ela ficaria ao lado da catedral da Sé. Pensamos em uma ilustra só para o abre da matéria, o cenário seria um bar, com 4 cenas:
Grupo de estudantes da São Francisco sentados numa mesa bebendo cachaça flamejante em cranios humanos.
Grupo de bêbados – italiano, português e dois negros.
Taberneiro atras do balcão brindando com dois populares, lavadeira e carregador de mala conversando no balcão."

A "minha ilustra que segue em anexo" era uma ilustração que fiz para o programa de TV Debret na Futura, esta aqui:

A pesquisadora é Daisy Camargo, autora da tese de mestrado "Alegrias engarrafadas:
os alcoóis e a embriaguez na cidade de São Paulo no final do século XIX e começo do XX".

Os mapas abaixo mostram como era a praça da Sé nesse tempo e como é hoje.



A catedral não existia, a Sé era uma igreja menor, perto da rua Direita.
Na fotografia abaixo, a rua Esperança aparece ao fundo, seguindo ao lado da igreja
(para quem conhece o centro de São Paulo, é seguindo na direção da João Mendes;
a fotografia foi tirada da esquina da XV de Novembro ou Direita).



Então, imaginei meu ponto de vista na tal rua Esperança, de dentro do bar, olhando a torre da igreja por trás.
Primeiro, fiz este "rough" de como via o desenho na página de abertura do artigo:



O editor gostou e me mandou de volta, com ela aplicada no layout da página:


Fiz então um estudo já mais caprichado, que já dava pra chamar de layout.
O tamanho da ilustração aumentou, o editor conseguiu mais espaço e empurrou o texto uma coluna adiante.
Preenchi então com mais algumas figuras na parte direita.



Layout aprovado, começa a finalização.
Finalizei o desenho em partes, com bico de pena e nanquim, em papel sulfite A3 (40 X 30 cm).



A seguir, a colorização no Photoshop.

Primeiro, criei um layer com o layout e a diagramação, de referência,
com as medidas exatas da página, para consultar de vez em quando.
Na maior parte do tempo ele ficava oculto.
Começo a separar algumas áreas e planos com cor.


Com a cor, me dei conta de que desenhei o boteco sem portas...


Não havia pensado antes, mas na hora de finalizar pensei algo lógico:
Começar pelas luzes do cenário é melhor, porque elas é que vão orientar a luz dos personagens. Lógico.


Sombrinhas, sombrinhas e sombrinhas...


Aqui, desenhei outra cabeça para o portuga.
É que o editor queria um português de bigode, e eu, talvez cansado do clichê, visualizei um lusitano imberbe.
E desenhei meio mal inspirado, e ficou com cara de árabe...
Isso foi me incomodando, então fiz outra tentativa e cheguei nesse seu Manuel aí de baixo.
Manuel chavecando uma Maria.
O que posso fazer, se os clichês do "imaginário", afinal de contas, existiram e andaram entre nós?


Também dei uma mexida nas cores. Tirei bastante amarelo,
e com isso ressaltou o magenta (cor rosa bem forte, usada no sistema gráfico).
Numa avaliação bem subjetiva, perdeu a luz de "filme" e ficou com cara de gravura desbotada,
o que me agradou.



Não ficou uma ilustração realista, mesmo considerando que é um desenho de caricatura.
As figuras estão dispostas e iluminadas para poderem ser vistas e compreendidas
(uma fotografia in loco registraria personagens na penumbra, de costas, fazendo coisas que nem sempre se consegue entender).
É mais uma recriação nostálgica, para passar o clima de boteco e ao mesmo tempo, lembrar certas gravuras antigas e desbotadas.
Foi muito legal ter feito essa ilustração, dá vontade de criar uma história só para usar esse ambiente e os personagens.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Curso de HQ na Casper Líbero em São Paulo


Em janeiro de 2010 (de 18 a 27/01), darei um curso de HQ na Faculdade Casper Líbero de jornalismo, em São Paulo.
Serão 7 noites (das 19:00 às 22:00), carga horária de 21 horas. Há vagas para 25 alunos.

Não será um workshop - os alunos não produzirão trabalhos, serão aulas expositivas - porém, acredito que reunirá teoria e prática: teoria porque gosto de especular e criar sistemas; e prática, porque os conceitos têm sempre ligação direta com minha produção de quadrinhos.

Estas reflexões são frutos do meu esforço de aprender HQ, de ensinar para mim mesmo.
Eu quero entender para fazer. Por isso, é teoria essencialmente voltada para a prática, para o mundo real.

O curso de destina tanto a pessoas que querem entender e estudar a linguagem dos quadrinhos, como para quem já faz e gostaria de ter uma visão abrangente dessa arte.
A estrutura do curso será mais ou menos como se segue:

Primeiro módulo (18/01) Introdução aos quadrinhos
- por que o quadrinhos são a "nona arte"?
- HQ, uma arte formada de muitas.
- como as outras artes e linguagens podem ajudar a HQ.
- o que é típico da HQ e pertence só a ela?

Segundo módulo (19/01) Roteiro
- mitos, lendas, parábolas: a velha e ancestral arte de contar histórias.
- roteíro clássico, teoria dos três atos
- o "monomito" e a Jornada do Herói
- roteirizando histórias reais e literatura
- análise de roteiros (filmes clássicos, HQs)

Terceiro módulo (20/01) Personagem
- personagem, persona, máscara, alter-ego
- tipos e arquétipos
- o trabalho do ator na descoberta do personagem
- o desenvolvimento do personagem em seu grupo (oposições, conflitos).
- o design do personagem de HQ

Quarto módulo (21/01) Narrativa Visual
- a imagem que conta uma história
- a representação do tempo em quadros (decupagem) - o storyboard
- enquadramento, ângulos - linguagem de cinema e quadrinhos

Quinto módulo (22/01) Humor Gráfico
- a "fórmula do humor": anatomia de uma piada
- humor verbal e humor visual: a pantomima, a gag, a arte do palhaço
- o desenho de humor / caricatura / a tira de jornal / charge e cartum

Sexto módulo (26/01) Expressão e Design Gráfico
- os quadrinhos na página: a "direção de arte"
- organização do espaço, gestalt, percepção da forma
- o “estilo” - expressividade do traço e recursos plásticos
- exigências impostas pelos meios de reprodução e distribuição: papel, formato, cor.

Sétimo módulo (27/01) HQ e Mercado
- o quadrinhista e os diversos setores e pessoas com quem interage: o editor, a distribuição, a imprensa, o pesquisador, a escola, o aluno, o leitor
- a formação do quadrinhista, a profissionalização; HQ como carreira.
- direitos autorais: o autor e sua obra.
- HQ como linguagem aplicada a outros campos (comunicação, publicidade, treinamento, campanhas educativas)
- o momento atual dos quadrinhos.

A faculdade Casper Líbero fica no prédio da Gazeta, na av. Paulista 900, próximo ao metrô Brigadeiro, em São Paulo.
As inscrições e acertos devem ser feitas direto na Casper Líbero, para mais informações clique aqui.

Informações pelos telefones (11) 3170-5910 e (11) 3170-5911.